O que era pra ser liberdade virou precarização — e os números estão aí pra provar
Em um cenário onde o bem-estar se tornou uma assinatura digital, plataformas como Wellhub (ex-Gympass) e TotalPass prometem acesso ilimitado a academias, estúdios, terapeutas, nutricionistas e apps de mindfulness. Parece o pacote completo, certo? Mas por trás dessa promessa de liberdade e variedade, uma nova forma de desvalorização se instala: a substituição da relação humana por um código de barras.
Nos últimos dois anos, o crescimento dos agregadores foi explosivo. O Wellhub, por exemplo, saltou de 12 mil empresas clientes para mais de 22 mil globalmente, ultrapassando 600 milhões de check-ins e adicionando serviços como psicoterapia, saúde financeira e sono à sua carteira de ofertas (Wellhub, 2024). Ao mesmo tempo, uma pesquisa interna revelou que 61% dos usuários nunca haviam tido um plano de academia antes, o que mostra o impacto positivo do modelo na democratização do acesso. Só que tem um problema: esse crescimento ocorre em detrimento da qualidade da experiência — tanto para quem oferece, quanto para quem consome.
Estúdios e profissionais de educação física relatam há anos os efeitos colaterais desse modelo. O valor pago por atendimento em muitas academias participantes gira em torno de R$ 5 a R$ 9, segundo levantamento informal de redes sociais e fóruns como r/Maromba. Isso leva a uma pressão constante para lotar horários, reduzir a personalização e transformar o cliente em volume. Para quem está do outro lado — você e eu, que buscamos um ambiente seguro, acompanhamento de verdade e um plano que respeite nossas particularidades — o que encontramos muitas vezes é pressa, descaso ou despreparo.
Esse movimento traz reflexos diretos na rotina: alunos que não são acolhidos corretamente abandonam o plano, sentem-se perdidos nos treinos e, pior, voltam a associar o exercício a algo negativo. Profissionais perdem a motivação, tornam-se peças de um sistema automatizado e sem margem de manobra. E estúdios de alta performance — como o TTC — que resistem a esse modelo, passam a ser percebidos como “caros demais”, quando na verdade entregam algo que os agregadores jamais conseguirão: atenção de verdade.

O bem-estar virou produto — e a experiência virou estatística
Quando a saúde se torna escalável demais, o que se perde é a conexão humana
O modelo de agregadores corporativos como Wellhub e TotalPass parece, à primeira vista, um salto evolutivo para a saúde pública e o acesso à atividade física. Mas por trás dos benefícios quantitativos se escondem efeitos colaterais qualitativos que estão minando a base do relacionamento entre aluno, profissional e espaço. Quando tudo se resume a “check-ins”, o senso de pertencimento e o compromisso com o processo desaparecem — e com eles, os resultados reais.
Entre 2022 e 2025, a Wellhub viu sua base de empresas contratantes quase dobrar, ultrapassando 22 mil corporações, com mais de 75 mil academias e estúdios parceiros em 11 países. Só em janeiro de 2025, foram mais de 29 milhões de visitas à plataforma no Brasil (Sensor Tower, 2025). Esse crescimento, no entanto, tem um custo silencioso. O sistema repassa aos estúdios valores irrisórios por atendimento — em média, R$ 5 a R$ 12, segundo empresários do setor entrevistados em reportagem do Terra. Estúdios que antes conseguiam manter qualidade, agora são forçados a aceitar volume ou sair da plataforma.
Esse desequilíbrio se agrava com a percepção pública: o consumidor médio, ao acessar centenas de academias e serviços com um único app, passa a comparar realidades completamente diferentes como se fossem equivalentes. E ao não enxergar valor em experiências mais profundas, reforça a lógica de “quem cobra mais está explorando”. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han já alertava em A Sociedade do Cansaço:
“O excesso de positividade gera autodestruição. Quando tudo é possível, nada é profundo.”
E é exatamente isso que vemos no mercado fitness atual: uma overdose de acesso sem profundidade de vínculo.
O panorama futuro é preocupante. Especialistas como o economista francês Thomas Philippon alertam que mercados excessivamente concentrados criam ilusão de competição, mas na prática reduzem a inovação e esmagam a cadeia intermediária (profissionais e pequenos negócios). No fitness, isso se traduz na padronização das experiências, na evasão dos melhores treinadores e na saturação de clientes frustrados que entram, testam, e desistem — sem nunca experimentar um verdadeiro processo de transformação.

A saúde virou conveniência. E a conveniência está matando a consistência.
Estamos virando uma geração que “experimenta tudo” e se compromete com nada. O corpo, a mente e o sistema não aguentam mais.
Nos venderam a ideia de que acesso ilimitado a academias, pilates, terapia e yoga seria o caminho para uma vida mais equilibrada. Mas a realidade tem mostrado o oposto. Ao transformar saúde em algo descartável, rotativo e gamificado, estamos criando uma geração que testa tudo, mas não se aprofunda em nada — e o preço é mais alto do que parece.
Segundo dados da OMS (2023), mais de 1 em cada 4 adultos no mundo não pratica atividade física suficiente. No Brasil, a inatividade física afeta 47% da população adulta. Agora junte isso ao dado recente da Wellhub: em janeiro de 2025, houve recorde de check-ins… mas também recorde de abandono no mês seguinte. O que isso revela? Estamos entrando, testando, e saindo. Um looping de insatisfação, culpa e frustração — como quem pula de dieta em dieta achando que o problema é sempre “falta de foco”.
Esse modelo de uso “descartável” da saúde está, aos poucos, atrofiando a musculatura do compromisso. Estúdios boutique, que antes geravam comunidades sólidas e resultados duradouros, estão sendo pressionados a se enquadrar em uma lógica de volume e preço baixo — e muitos estão fechando as portas ou demitindo equipes inteiras. O problema vai além do mercado: é social. O bem-estar virou um token para RH, um login compartilhado, um avatar que faz yoga por você.
E se nada mudar?
Se continuarmos aceitando que quantidade de opções substitui qualidade de presença, o que teremos é um futuro onde:
- Os melhores profissionais abandonarão a profissão por desvalorização;
- Os estúdios mais completos serão esmagados por margens insustentáveis;
- A experiência do aluno será tão rasa quanto uma playlist de “treino motivacional” no YouTube.
A saúde do corpo se perderá junto à saúde das relações — e seremos, de fato, uma geração hiperconectada e desconectada de si mesma.
E se o que você procura não for mais variedade, mas profundidade?
A mudança começa quando paramos de terceirizar o nosso bem-estar e voltamos a escolher com presença
Você pode continuar experimentando aplicativos, testando estúdios, fazendo check-ins aleatórios, pulando de aula em aula — e continuar sem resultado. Ou pode fazer uma escolha consciente, e investir tempo e energia num ambiente que não apenas te receba, mas te reconheça. Que não só registre sua presença, mas construa sua evolução. A mudança de verdade começa quando você deixa de ser “mais um” e vira protagonista da sua própria jornada.
A primeira prática concreta para virar esse jogo é valorizar o vínculo, não o volume. Trocar a lógica do “quanto mais, melhor” pela profundidade da continuidade. Um profissional que te acompanha por semanas conhece suas limitações, dores e potências — e te conduz com segurança. Um aplicativo não faz isso. A solução está em resgatar o relacionamento humano no centro da experiência fitness, com acompanhamento real, metas claras e ajustes inteligentes ao longo do caminho.
A segunda mudança necessária é educacional e cultural. Empresas precisam entender que oferecer bem-estar não é só contratar um app. É fomentar ambientes que incentivem seus colaboradores a criar rotinas sustentáveis, com horários respeitados, pausas reais e flexibilidade para investir em si mesmos. E nós, como consumidores, precisamos sair do modo automático e nos perguntar: isso está me ajudando a evoluir ou só preenchendo um vazio temporário?
Por fim, precisamos de espaços que resistam à padronização. Estúdios como o TTC – TavaresCoach Training Center, em Copacabana, existem para quebrar esse ciclo. Aqui, cada aluno tem nome, história e plano sob medida. Nenhuma aula é genérica, nenhum treino é automatizado. É sobre atenção. É sobre presença. É sobre resultado de verdade. E a melhor parte? Você pode começar agora.
Se você está cansado de girar em círculos, tentando se encaixar num sistema que não te reconhece — experimente o oposto.
Agende uma visita ao TTC. Conheça um estúdio onde o algoritmo não manda. Quem manda é você.
Sua saúde não é um QR Code. É sua identidade. Vamos cuidar dela como ela merece?



1 Comment
Matéria para reflexão de mudanças de metodologias !
Parabéns ,gostei muito!!!